Casa de diarista em São Paulo foi considerada a melhor construção do mundo
A diarista que ganhou o prêmio internacional de “Building of the Year 2016” (melhor construção do ano) oferecido pelo site ArchDaily ainda não se acostumou com a cor de sua nova casa. Aos 74 anos, Dalvina Borges Ramos, dona do imóvel localizado na Zona Leste de São Paulo, afirmou que a parede é bonitinha, mas o chão dá uma impressão de sujeira e que gostaria de colocar um piso branco para dar uma aparência mais alegre. A residência foi reformada por Marcelo Borges, seu filho único, que procurou um escritório de arquitetura com urgência e orçamento limitado.
O imóvel, com 95 metros quadrados, foi adquirido por Dalvina há mais de 25 anos, e além de ser antigo, a construção não foi bem projetada. A gota d’água foi um dilúvio que ocorreu em São Paulo em 2013, quando parte do teto desabou durante uma forte chuva. Dalvina estava no banho quando a estrutura caiu, mas não se feriu. Isso foi o alerta para que Marcelo iniciasse a reforma do imóvel.
O valor da reforma não poderia ultrapassar R$ 150 mil, que foi acumulado por Dalvina ao longo de décadas de suor e economia. Ela deixou a cidade de Brumado, interior da Bahia, nos anos 60 com seus pais e 14 irmãos, rumo à Garça, interior de São Paulo, onde uma tia morava. Trabalhou na roça paulista até ser contratada como empregada doméstica de uma família que um ano depois, mudou-se para a capital. Dalvina foi junto. Passou boa parte da vida residindo no emprego, fez de um quarto sua morada e do filho.
Foi justamente por ter conseguido otimizar o espaço a um orçamento limitado, que o escritório foi recentemente reconhecido com o prêmio internacional. No entanto, Tuma pontuou que a opção por blocos de concreto aparente em toda a casa ao invés de materiais mais sofisticados não foi somente por conta do baixo custo.
“Levamos o prêmio porque trabalhamos pela democratização da arquitetura. Essa não é uma casa virtuosa, com acabamentos de última geração. E além do orçamento restrito, usamos aqueles materiais porque é a forma como entendemos o conforto. Uma casa com blocos de concreto e estrutura aparente privilegia o espaço ao invés da superfície”, explica Tuma.
A história de Dalvina é uma história de vida, e ela acha a sua história bonita. Em 2014, Marcelo recorreu ao escritório de arquitetura Terra e Tuma, que foi indicado pelos pais de sua ex-mulher. O arquiteto Pedro Tuma, um dos três sócios do escritório, explicou que uma das virtudes deste caso foi o impulso do Marcelo em ter procurado um escritório de arquitetura, cujo trabalho costuma ser vinculado aos altos custos. Eles construíram uma proposta coerente e solicitaram um imóvel com dois quartos, sala, banheiro e área de serviço.
A opção pelos blocos de concreto aparente em toda a casa ao invés de materiais mais sofisticados não foi somente por conta do baixo custo, mas sim pela forma como o escritório entende o conforto. Uma casa com blocos de concreto e estrutura aparente privilegia o espaço ao invés da superfície. E foi justamente por ter conseguido otimizar o espaço a um orçamento restrito que o escritório foi recentemente reconhecido com o prêmio internacional.